VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM "TOLERÂNCIA ZERO"?

Em época de eleições há sempre a tentação de prometer ou mesmo tentar resolver problemas graves com receitas prontas ou imediatistas. No campo da segurança pública, cujos problemas são sempre urgentes, existe desde o início da década de 1990 uma receita populista que se propõe como um remédio para todos os males da violência urbana. Ela tem nome e sobrenome: Tolerância Zero.

Capa do Livro "As Prisões da Miséria"

Tal programa é oriundo de ideias difundidas por setores conservadores dos Estados Unidos, baseados em uma experiência de policiamento desenvolvida na cidade de Nova York a partir do ano de 1994, quando venceu as eleições para prefeito o republicano Rudolph Giuliani e este nomeou William Bratton como chefe da polícia local.

A tática do programa Tolerância Zero era relativamente simples. Consistia em reprimir o menor distúrbio possível com a pena de prisão. Assim, pequenos delitos como urinar na rua, pedir esmolas, deitar em bancos de praças, e até mesmo a prática de limpar os para-brisas dos carros nos semáforos, como fazem os “flanelinhas” no Brasil, eram reprimidos duramente com temporadas curtas na prisão. Além disso, havia um controle em tempo real dos índices de criminalidade através de um programa chamado COMPSTAT (sigla em inglês para Computadorized Mapping System), sendo os chefes dos distritos policiais monitorados e responsabilizados pelos resultados obtidos em suas áreas. Era, então, estabelecida uma espécie de concorrência para atingimentos das metas nos tais distritos, à semelhança do que ocorre com empresas que competem entre si no mercado.

O Programa Tolerância Zero foi alvo de várias críticas por perseguir, reprimir e encarcerar grupos minoritários, principalmente negros e pobres.  O sociólogo francês Loïc Wacquant, em seu livro As Prisões da Miséria, mostra como tal programa realizou o “fortalecimento e a glorificação do Estado Penal” ao mesmo tempo em que pregava a diminuição do Estado nas políticas sociais. Traços de um governo neoliberal.

O Policial Pensador acredita que tal programa não deve ser mencionado como modelo para qualquer tipo de política pública de segurança a ser aplicada no Brasil, a não ser como exemplo daquilo que não queremos para nossa sociedade.

Referências Bilbiográficas:

WACQUANT, Loïc. As Prisões da Miséria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

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