ENTREVISTA COM O XERIFE: Eliel Teixeira, brasileiro e Xerife em Los Angeles, concede entrevista exclusiva para o Policial Pensador.
Eliel Teixeira é o único brasileiro a
ocupar a sua atual posição na Polícia do Condado de Los Angeles. Apesar de
morar nos EUA desde os 15 anos, acompanha e torce pelas polícias brasileiras,
sempre comentando assuntos relativos à segurança pública.
A entrevista foi concedida através da
internet, após o mesmo comentar que lia e acompanhava o Policial Pensador.
Policial Pensador: Eliel Teixeira, brasileiro,
Xerife-Delegado do Condado de Los Angeles. Conte-nos essa história.
Eliel Teixeira: Eu nasci e cresci em Brasilia, e
emigrei pros EUA com 15 anos de idade. Cursei o 2º Grau e faculdade, e inicialmente
fui trabalhar na iniciativa privada no setor de telefonia. Atraves da
iniciativa privada que vim a saber sobre o processo seletivo pra entrar na Polícia.
Como meu sonho sempre foi o de ser policial, decidi me inscrever no concurso e
passei.
Policial Pensador: Algumas polícias estadunidenses,
como a Polícia de Nova York e o famoso LAPD (Departamento de Polícia de Los
Angeles), são muito famosas, especialmente devido ao cinema de Hollywood. Como
é o cotidiano de um policial em Los Angeles?
Eliel Teixeira: O condado é grande. São mais de 88
municípios e 120 comunidades que compõem o condado, totalizando quase 12 milhões
de pessoas numa área metropolitana equivalente a alguns estados americanos. Então
temos de tudo: do bairro mais luxuoso ao mais violento. O cotidiano varia
dependendo da área em que o policial trabalha. Mas todas as áreas têm suas
peculiaridades e crimes rotineiros. O policial de cada área se adapta a aquela
realidade.
Eliel Teixeira, um xerife brasileiro (Foto: arquivo pessoal do entrevistado) |
Policial Pensador: Você tem acompanhado as atuais
discussões sobre reformas no modelo de polícia existente no Brasil. Quais
mudanças você considera pertinentes?
Eliel Teixeira: Eu vejo 3 aspectos da policia
americana que resultaram na eficácia que temos hoje. A primeira é o ciclo
completo de policiamento, em que a mesma polícia que faz o patrulhamento é a
mesma que investiga. E nesse ciclo completo o policial evolui de um estagio ao
outro, começando primeiro pela experiência de rua e depois levando esse
conhecimento quando passa a ser investigador. Hoje no Brasil há um disconexo
entre a realidade da rua e a investigação.
O
segundo aspecto é a carreira unica. Acredito que o Brasil seja o único país no
mundo em que há concurso pra chefia, sem requerer experiencia prévia, e com um
sistema dividido em castas. Então um indivíduo sem experiência passa a chefiar
uma equipe e uma investigação da noite para o dia. E um policial com vasta
experiência policial se estagna sem opção de promoções. Em outros países, a
chefia é resultado de anos de carreira e experiência. Isso nao só eleva o nível
de satisfação interna entre os membros que tem a opção de ascender na carreira,
mas tambem eleva o nível de confiança da população no comando de sua policia.
Um chefe de policia com 30 ou mais anos de carreira tem muito mais
credibilidade do que um chefe que foi indicado por razões políticas e não técnicas.
E o
terceiro aspecto é a eficácia do conjunto de leis. Principalmente do papel da
polícia nessas reformas. No Brasil varios policiais individuais se candidatam a
cargos políticos na esperança de representarem seu segmento e isso fragmenta os
votos. Nos EUA, as associações investem em varios candidatos NÃO POLICIAIS, mas
com chances reais de vencerem uma eleição. Então quase sempre a polícia vai ter
uma bancada expressiva ou maioria absoluta como é o caso na Califórnia hoje. E
isso é essencial para que projetos de reforma penal e constitucional sejam
aprovados beneficiando a polícia e o seu trabalho.
Policial Pensador: E o que as Polícias Brasileiras têm
a aprender com a sua polícia?
Eliel Teixeira: A polícia brasileira evoluiria muito
mais se mudasse sua estratégia de influência política como mencionei acima. A polícia brasileira como um todo tem conseguido
melhores benefícios através do apoio a candidatos individuais. Mas na maioria
das vezes sao beneficios salariais. Mas até hoje tem falhado em conseguir
reformas expressivas no código penal, como por exemplo qualificar a agressão física
contra um policial. E esses ganhos só se conquistam com uma bancada
numericamente expressiva. Se nao houver uma mudança nessa estratégia, algumas
propostas como a PEC51 terão sempre dificuldades em serem aprovadas. Como o
grande Albert Einstein disse: “Insanidade
é continuar fazendo sempre a mesma coisa e
esperar resultados diferentes”.
Policial Pensador: A relação com a comunidade é
importante? Você poderia dizer quais as diferenças entre a comunidade de Nova
York e de Brasília, por exemplo, em relação à polícia?
Eliel Teixeira: Não é só importante. É o fundamento
de toda a existência da polícia. Sem o apoio da comunidade não teríamos a
autoridade e autonomia que temos. Acredito que a polícia de Brasília, a qual eu
visitei, seja modelo nessa área e se assemelha muito a nossa no relacionamento
com a comunidade e com grupos de liderança. Há um diálogo, e isso é o que
impulsiona o trabalho da polícia nas comunidades e estabelece a confiança mútua.
Policial Pensador: Finalmente, que conselho dá aos
policiais brasileiros?
Eliel Teixeira: Eu nao tenho conselho a dar, mas
parabenizo a todos pelo trabalho que exercem diariamente. Tenho uma admiração
muito grande por todos, por reconhecer os obstáculos que enfrentam todos os
dias no cumprimento do dever. Fica aqui minha saudação fraternal a todos. Força
e Honra!
Policial Pensador: Muito obrigado!
Essas informações de um mundo próximo do ideal são muito importantes para orientar a nossa jornada em busca de melhorar o serviço de segurança pública e a valorização do profissional.
ResponderExcluirParabéns ao blog POLICIAL PENSADOR.