O Policial Pensador e a redução da maioridade penal: opinião

O site da Câmara Federal traz a informação de que, em discussões na Comissão Geral sobre segurança pública, ocorrida nesta quarta (18/03), alguns deputados federais defenderam a chamada “redução da maioridade penal” como forma de combater a violência. São citados os deputados Rocha (PSDB-AC), Silas Freire (PR-PI), Major Olímpio (PDT-SP), Keiko Ota (PSB-SP) e Delegado Edson Moreira (PTN-MG). (Veja a notícia aqui).

Por ser tema diretamente ligado à segurança pública, o Policial Pensador deseja contribuir com o debate, trazendo alguns dados e argumentos que permitem aos policiais discutirem sobre o tema com mais propriedade.

Em primeiro lugar, é necessário observar que essa discussão geralmente vem à tona quando a grande mídia, utilizando-se de algum homicídio grave ocorrido cujo autor seja adolescente, aproveita-se do sofrimento e dos sentimentos de revolta pessoal de membros da família da vítima e, ao expor o drama, confunde sentimentos de vingança com a justiça desejada, como bem fala o advogado Nilo Batista: “um elemento estratégico é dissimular os óbvios sentimentos de vingança na ideologia legitimante do poder punitivo; uma sorte de privatização simbólica da pena”. O poder exercido por esses meios de comunicação de massa facilita a adesão popular a causas como essa.

Em seguida, uma questão importante a ser também observada está nos dados apresentados pelas estatísticas nacionais sobre os atos infracionais cometidos pelos adolescentes. Segundo o 8º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro da Segurança Pública, em 2012 foram registrados 47.094 homicídios no país e 1.963 atos infracionais (nome que se dá quando a conduta é realizada por adolescente) equivalentes a esse mesmo crime. Ou seja, 4% do total dos assassinatos foram cometidos por adolescentes. Os números são preocupantes, mas não constituem o mais grave dos problemas de segurança pública brasileiros.

Outro ponto que deve ser falado é que a redução da maioridade penal, com a consequente punição de adolescentes através do sistema penal comum, mais oculta problemas do que os resolve. Ela oculta o fato de que as crianças e os adolescentes mais pobres têm sido grandes vítimas de descaso e abandono por parte das políticas públicas. A desigualdade social e a péssima qualidade em moradia, educação e lazer são escondidas pela ação penal do Estado. Loïc Wacquant, em seu livro “As Prisões da Miséria”, chama esse processo de “criminalização da miséria”.

Adolescentes internos da Fundação Casa/SP. Imagem: Marcos Santos/USP Imagens


Além de não resolver os problemas de segurança pública existentes, a redução da maioridade penal também geraria novos problemas. Qualquer policial sabe que a prisão é, na verdade, uma escola de crime, e que a ressocialização de presos atualmente é uma grande falácia. O encarceramento dos jovens, que hoje já se dá nas péssimas instituições para adolescentes, será ainda mais agravado com sua inclusão nas podres penitenciárias: lugares de ilegalismos e desrespeito à dignidade humana; verdadeiras fábricas de criminalidade e ódio.


Redução da maioridade penal na visão de Carlos Latuff

Pelos motivos elencados e por vários outros argumentos não utilizados no texto (leia o artigo "Quatro razões a favor da NÃO redução da maioridade penal"), o Policial Pensador é contra a redução da maioridade penal e acredita que vários policiais também o são, pois desejam soluções efetivas, e não falaciosas e populistas, para os problemas de segurança pública do país.  

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2 comentários to ''O Policial Pensador e a redução da maioridade penal: opinião"

Comentarios
  1. O Brasil nao tem uma politica de Segurança Publica e quer recorrer as mesmas alternativas para resolver os mesmos problemas, buscando atingir resultados diferentes. Soh pra ficar no primeiro exemplo, cito a Lei de Crimes Hediondos, que nao extinguiu os crimes hediondos (nossa!). Queremos curar uma doença atacando os sintomas, mas nao as causas, atraves de medidas preventivas. Para os politicos, seguranca publica eh legislaçao...porque arregacar as mangas, ninguem quer.

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  2. Uma coisa uma coisa, outra coisa outra coisa. Aí do Ceará é fácil falar de criminalização de miséria, porque quando a miséria aumenta é só exportar pobres para o sul. Mas quem pensa de verdade sabe que a impunidade gera a criminalidade.

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