Policiais e professores no Paraná: de que lado você está?

Nos últimos dias estamos vendo nas redes sociais (e muito pouco na mídia televisiva) a situação pela qual os professores do estado do Paraná estão passando. Em greve há cerca de uma semana, o ápice do movimento aconteceu quando os professores manifestavam rumo ao prédio da Assembleia Legislativa daquele estado. Lá, o confronto com a Polícia Militar foi inevitável.

Segundo os noticiários das redes sociais, cerca de 200 professores ficaram feridos no confronto. Gás lacrimogênio (clorobenzilideno malononitrilo), bala de borracha (elastômero), spray de pimenta (Oleorresina Capsicum) e bombas de efeito moral foram usados pela polícia para dispersar os manifestantes. O que causou o embate? Do lado dos professores a informação de que os policiais agiram sem motivos, já que a manifestação era pacífica. Do lado dos policiais, houve uma reação aos ataques dos manifestantes quando tentaram “invadir” a Assembleia Legislativa.

Professor ajuda policial ferido durante manifestações de professores por direitos,
em 26.03.2010, em São Paulo. (Foto: Clayton de Souza -  Agência Estado)

Detalhe: isso se deu bem próximo ao Dia do trabalhador, o tão festejado e criticado 1º de maio. O dia em que os trabalhadores de nosso Brasil deveriam se unir e comemorar, na verdade é um dia para se refletir a respeito do assunto e, principalmente a respeito dos professores e policiais. Duas categorias profissionais que formam e protegem vidas e que não têm o devido e merecido reconhecimento por parte da sociedade e do Estado. Duas profissões que têm salários indignos frente à sua importância para nação. Duas profissões que não são valorizadas pelos nossos representantes políticos e que não raramente se veem em confrontos desnecessários caso houvesse uma maior sensibilidade por parte de quem está no poder. Quando se fala em “aumentar” (quando na verdade é torná-lo compatível com a importância destas profissões) o salário dos professores ou dos policiais, o que temos é um mal-estar daqueles que “representam” o povo. Já quando o assunto é “reajustar” os vencimentos de um Deputado, sorrisos a mil...

Recentemente, o governador do estado do Paraná Beto Richa (PSDB) fez uma declaração polêmica a respeito de policiais que estudavam. Segundo o mesmo, policial que estuda tem uma forte tendência a não cumprir ordens (Veja aqui e aqui). Levando esta declaração à realidade do confronto em frente à Assembleia Legislativa, podemos fazer uma ligação entre os abusos cometidos por parte da PM do Paraná e a instrução dos policiais? Uns dizem que sim, outros dizem que não.

Na verdade, o nível educacional não interfere de forma a ser determinante para que uma pessoa, de qualquer profissão, seja desobediente ou não. Estenda-se isso a ser corrupto ou não. Isso faz mais parte da índole de cada um de nós do que da nossa formação profissional ou educacional. Ser cúmplice do sistema ou ser revolucionário é uma opção e não algo que se define pelo nível de acesso aos estudos.

Um fato é verdade: com os confrontos entre policiais e professores ocorridos ao longo da história do Brasil, quem mais perde é a sociedade, pois ao invés de professores estarem na sala de aula formando nossos filhos e os policiais na rua protegendo a todos nós, estão brigando em praça pública. O pior disso tudo é vermos vídeos onde alguns sujeitos sem o menor compromisso social comemorando e vibrando com o confronto e com tantas pessoas feridas, sejam policiais ou professores. Será que nossos representantes têm as mesmas atitudes? Prefiro acreditar que não.


O dia do trabalho chega com esta triste realidade, onde nossos protetores e nossos educadores não se entendem. Professores e policiais devem ser mais unidos para incomodar aqueles que querem e ganham com nossas discórdias. Para o sistema, nossa desunião é excelente. Enquanto policiais e professores não se unirem contra muita coisa errada que está acontecendo em nosso país, a situação não mudará e os corruptos (coitados dos ratos que levaram para o congresso nacional) continuarão a fazer a festa com nosso tão suado dinheiro. O diálogo e a alteridade são fundamentais neste momento tão delicado.

Artigo escrito por João Edson,  Policial Militar do Ceará e acadêmico do curso de Direito da Universidade Federal do Ceará.

Seja um Policial Pensador!  Contribua com este espaço enviando textos, fotos ou reportagens sobre Polícia, Política e Segurança Pública no Brasil e no mundo. 

E-mail:pensadorpolicial@gmail.com

#Compartilhar:

Sem Comentario to " Policiais e professores no Paraná: de que lado você está? "

‹‹ Postagem mais recente Postagem mais antiga ››