Coronel chefe do Estado Maior da PMERJ é a favor da desmilitarização e critica política de guerra às drogas
O coronel Robson Rodrigues, chefe do Estado
Maior da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, concedeu entrevista ao Jornal
Extra, do mesmo estado. Na matéria, com o título “Número dois da PM do Rio admite erros nas UPPs, elogia desmilitarização e critica política de guerra às drogas: ‘Fracasso’”, ele mostra algo muito
importante para o atual cenário das polícias brasileiras: a mudança de
pensamento de policiais da alta cúpula de algumas corporações, o que pode,
enfim, ensejar mudanças.
Confira, na íntegra, a entrevista:
Por que o senhor largou a aposentadoria e voltou à PM?
A corporação passava por uma crise moral, de credibilidade, os números
não estavam bons. Nosso projeto é o de modernização. Modernizar controle,
processos e estrutura é prioridade, para que a PM entregue um serviço melhor.
No ano passado, integrantes da cúpula da PM foram presos em casos de corrupção. Esse é um problema institucional?
A corrupção existe em qualquer lugar. A PM está mais visível, como braço
da força do estado. Só que o nível onde ela chegou, isso nunca tinha
acontecido. Chegou aos altos escalões. Esse combate virou responsabilidade
cívica. Por isso, muita gente foi afastada.
Coronel PMERJ Robson Rodrigues. (Foto: Portal Somos Heróis) |
Você é a favor da desmilitarização da PM?
Eu sou a favor do serviço policial de natureza civil numa
sociedade democrática, só que sou pragmático. Sou a favor da modernização antes
da desmilitarização. Na identidade militar, temos bons princípios, como
controle, organização e planejamento. Precisamos recuperar isso. Mesmo dentro
do militarismo, que eu não acho que seja o melhor modelo, perdemos a essência.
A PM é o maior alvo de críticas quando o assunto é segurança pública. A que você acha que isso se deve?
A uma herança maldita da ditadura que a PM carrega até hoje. A ditadura
construiu um desenho institucional bem planejado para um controle totalitário.
Nesse cenário, a PM era a extensão da ditadura nas ruas. Passamos a um período
democrático e o mesmo arcabouço permaneceu inalterado. Temos que prestar contas
e defender os direitos da cidadania, mas temos o mesmo leque de atribuições. A
PM faz desde a briga por furto de passarinho até a criminalidade transnacional
na favela.
Você acha que a PM gasta tempo e recursos demais com a guerra às drogas?
A política de combate às drogas, que gerou o proibicionismo, fracassou.
O pretexto da guerra era o de que ela iria acabar com o tráfico, diminuir o
consumo e a violência. Aconteceu ao contrário. Hoje, muitos estados americanos
legalizaram o consumo. Nós continuamos aí. O que consome nossas energias é
isso. Se acabasse, talvez sobrasse mais tempo para que combatêssemos o grande
traficante de armas e de drogas, os grupos de extermínio... A PM foi convidada
para uma dança, e ficou dançando sozinha com uma venda nos olhos. Quem convidou
para dançar já saiu há muito tempo.
Como você avalia a formação policial hoje?
Essa é uma área que vai passar por mudanças. Vamos diminuir tempo
para formação de oficiais e aumentar o tempo para formação de praças. O fluxo
de carreira será meritocrático, os melhores vão ascender. O praça vai ter
oportunidade de ter uma formação continuada, chegar a oficial. Mas não acho que
haja problemas no currículo. Existe toda uma cultura que não nasce na polícia,
mas na sociedade. O policial está em inserido em nossa sociedade elitista, conservadora,
o que gera impactos na corporação.
As UPPs falharam?
As UPPs são um ótimo produto, mas precisam ser aprimoradas. Houve
equívocos? Houve. Se criou uma expectativa muito grande de que a polícia iria
resolver tudo. Se tivéssemos feito investimentos em qualidade, talvez não
tivéssemos avançado tão rápido.
Dá para consertar os erros?
A UPP estava isolada dentro da corporação. Percebemos isso e
remodelamos. Criamos dois núcleos: um de ocupação segura, com homens do Bope, e
outro de proximidade. Por isso dividimos as comunidades por graus de risco.
Quando percebemos um nível crítico, entra o núcleo de ocupação segura. Mas não
podemos esquecer da pacificação e nos lançarmos para a guerra, como já
aconteceu.
Como a PM se posiciona sobre a maioridade penal?
Nossos jovens estão sendo dizimados, tanto policiais quanto moradores de
favelas. É uma covardia achar que a polícia vai resolver o problema. Se vai
continuar como está ou não, não importa. O que importa é que nós vejamos o que
produz isso. A maior parte dos menores encaminhados para delegacias são
vítimas, e não autores.
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