Suicídio de policiais. As corporações estão doentes?
O tema do suicídio é um grande tabu em nossa
sociedade. Nas polícias, o silêncio e o constrangimento em falar do assunto é
ainda maior. A maioria das corporações não divulga o quantitativo de policiais
que tentaram ou de fato tiraram suas próprias vidas, provavelmente com receio
da influência dos dados em outros profissionais. As próprias famílias também
podem ocultar a causa da morte já que, em alguns estados brasileiros, o suicídio de policiais
não é encarado como morte decorrente do serviço, o que pode dificultar o
alcance de benefícios por parte de familiares. O tema merece ser abordado por
estar se tornando algo cada vez mais grave e gritante no cotidiano das
corporações.
A pesquisa Saúde Mental dos Agentes de Segurança Pública,
feita com policiais do estado do Rio de Janeiro pelo Claves-Fiocruz (Centro
Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli, da Fundação Oswaldo
Cruz) aponta que a taxa de suicídio entre PM’s é 3,65 vezes a da população
masculina e 7,2 vezes a da população em geral. (Veja matéria completa da BBC
Brasil sobre o assunto aqui).
Em apenas um ano, 11 policiais federais cometeram suicídio. (Foto: Isto É ) |
Já na Polícia Federal, os dados também são
alarmantes: de um total de 11 mil policiais, dois mil afirmam tomar algum tipo
de medicamento para tratamento psicológico e psiquiátrico. Onze profissionais
daquela corporação tiraram suas vidas entre março de 2012 e março de 2013. (Confira
matéria sobre o tema aqui).
O suicídio é o último passo dado em uma verdadeira “via
crucis” trilhada por policiais que são acometidos de sofrimentos psicológicos.
Esses sofrimentos podem ser causados por uma série de fatores, que vão desde uma
formação embrutecedora, más condições de trabalho, isolamento dos familiares, assédio
moral por parte de superiores hierárquicos, entre outros motivos. A socióloga
Larissa Sales, que realizou suas investigações de mestrado com policiais militares
do estado do Ceará, publicou sua dissertação intitulada “Medo e sofrimento social: uma análise das narrativas de policiais militares em atendimento clínico”, em que resume a questão:
Há que considerar, também,
as condições insalubres da formação e do próprio trabalho policial, nas quais
estão submetidos a escalas exaustivas associadas ao desgaste físico, ’stress’ e
ao sofrimento psíquico, além do próprio risco de vida. Como vimos tais
condições provocam danos psicológicos, às vezes de caráter permanente, que em
casos mais graves podem até levar estes ao suicídio.
As questões levantadas pelas pesquisas dão margem
para uma pergunta: estariam as corporações policiais brasileiras doentes e, consequentemente,
adoecendo seus profissionais?
O personagem Raskholnikov, (Dostoiévski, Crime e Castigo), assassinou brutalmente uma senhora que considerava digna de morte devido seus desvios de caráter, e mais sua sobrinha porque presenciou o crime. Ele se tinha por "acima da lei", e por isso tinha o direito de executar um ser que considerava inferior para cumprir seus propósitos. Mas ele não contava que executar tal brutalidade lhe adoeceria os afetos a ponto de o levar a uma morbidade profunda, que desejava a morte.
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