CONTOS POLICIAIS: O DIA EM QUE O POLICIAL ADOTOU O BANDIDO

Era um dia comum, três policiais patrulhando a cidade em uma viatura. Um deles teve a ideia: “Que tal passarmos lá na casa daquele marginalzinho que tá entrando pro mundo do tráfico?”. Todos concordaram e para lá foram.

Chegando lá, abordagem de rotina; uns garotos em frente à casa, todos com as mãos na cabeça após a ordem do policial. A mãe corre para tirar o seu filho daquela abordagem. “Meu filho não é bandido, não”, diz ela, quase chorando, o braço sobre o ombro do garoto de 15 anos.

Enquanto os policiais mais novos revistavam os demais garotos, o mais antigo, cabo de polícia com mais de 18 anos de serviço, conduzia a mãe e o garoto para dentro de casa, passando a conversar com os dois. Ouviu toda a história da família.

Eram dois garotos criados pela mãe, doméstica, e pelo pai, alcoólatra. Só a mãe trabalhava. Como não tinham casa, moravam com a avó, única figura de autoridade sobre eles. Ela morrera de câncer havia mais ou menos um ano, após 4 meses de luta contra a doença. O mais velho, com 16 anos, superou, continuou os estudos e até tentara o ENEM, pensando em entrar pra faculdade e ajudar sua mãe. O mais novo, no entanto, não teve a mesma estrutura emocional. Foi aí que o vizinho, que já vendia drogas, o aliciou, ofereceu umas pedras de crack para uso do adolescente e o seduziu com a possibilidade de ganhar um dinheiro rápido. “Para ajudar a minha mãe”, explicou o menino ao policial.

O resultado foi uma tragédia familiar: de garoto dócil, o menino se tornou violento; abandonou os estudos, após ter sido expulso por indisciplina e desrespeito aos professores. Perdeu os amigos da escola e passou a andar com pessoas mais velhas, todas envolvidas com crimes. Defendia o vizinho com todas as forças, inclusive contra a própria mãe.

Mas a mãe, que apesar de ter 45 anos, aparentava uns 70 de tanto sofrimento, insistia, abraçando o garoto e chorando: “Meu filho é um menino bom! Só precisa de outra chance. Ele quer voltar a estudar, mas a escola não o recebe mais. Já fui com o conselho tutelar e com uma carta do promotor... A escola não quer receber”.

O policial, naquele momento, entendeu tudo. A morte da avó, a ausência da mãe trabalhadora, o abandono da escola... Teve uma ideia e perguntou ao garoto, “quer estudar mesmo, rapaz?”. O garoto falou gritando, “não querem deixar!” O velho cabo então disse: “Arrumem-se, nós vamos à escola e eu vou falar com a diretora”.

Todos meio descrentes, foram, de viatura, até a escola. O cabo adentrou a escola, conversou com a diretora, ouviu suas queixas e reclamações sobre o garoto e disse: “Vou me responsabilizar por ele, dou minha palavra”. Pedindo que entrasse o garoto e sua mãe, falou com voz altiva, mas cheia de carinho: “Olhe para mim, rapaz! Estou colocando meu nome como seu responsável. Todos estamos confiando em você... Não me decepcione”.

O adolescente, meio sem jeito, pois estava desacostumado a ouvir uma voz de autoridade, e com os olhos cheios de lágrimas, disse: “Vai dar certo. Vou me esforçar.” A mãe emocionada abraça o garoto, enquanto o velho cabo e a diretora acertavam detalhes, inclusive de visitas à escola por parte da patrulha policial.

E foi assim que o policial, em um dia que acabou feliz e iluminado, “adotou” o “bandido”, preferindo ter fé nas pessoas a perder as esperanças para sempre... Até agora, não se tem notícias de que o adolescente esteja dando problemas em casa ou na escola.


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2 comentários to ''CONTOS POLICIAIS: O DIA EM QUE O POLICIAL ADOTOU O BANDIDO"

Comentarios
  1. E disso que precisamos. Não de políciais adotando famílias. Mas de policiais mais humanos deixando de tratar pobre como lixo e tratando de forma mais humana. Muita gente passa por problema, nem todos mas muita gente precisa de ajuda de uma orientação de um incentivo.

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  2. Parabéns área todos os policiais que ainda trabalham em prol dos menos favorecidos

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