MALÉVOLA E A ABORDAGEM SOBRE O CRIME E O CRIMINOSO
Assisti
recentemente à nova animação dos estúdios Disney, Malévola, e através dele
percebi que há “no ar” uma nova concepção em relação ao velho maniqueísmo que
sempre predominou nos filmes infantis. Tal concepção, como veremos, também pode ajudar o policial a pensar.
O
filme revisita o famoso clássico “A Bela Adormecida". A diferença é que a intenção
do diretor é mostrar os “bastidores” da trama original, levando o espectador a
entender como os fatos já conhecidos chegaram a acontecer.
Antes
de se tornar a conhecida vilã, Malévola é uma fada poderosa que lidera um mundo
mágico na defesa contra os ataques humanos. Ao reencontrar Estefan, um humano que
havia sido sua paixão de infância, Malévola é traída por ele que, ambicionando
ser rei dos humanos, corta as asas da fada e as leva ao rei como prova de que a
teria matado.
Após ser traída e
mutilada, Malévola passa a ser uma pessoa amargurada e se isola na escuridão. O
ponto culminante de seu ódio é quando amaldiçoa a recém-nascida princesa
Aurora, filha do agora Rei Estefan. Segundo a maldição, a princesa furaria seu dedo aos 16 anos em um tear, só despertando após um beijo de amor verdadeiro.
Malévola (Foto: Divulgação) |
Durante
as cenas seguintes, o espectador passa a compreender as ações de Malévola,
percebendo que a mesma não é apenas uma “Bruxa má”, mas uma pessoa complexa e
de sentimentos variados. A imagem da vilã é, então, relativizada.
O
“final feliz” do filme é também uma releitura do conto original. O Beijo de
amor verdadeiro que acorda Aurora não vem do Príncipe, mas da própria Malévola,
que se tornou madrinha da Bela Adormecida.
Tal
abordagem, bastante inovadora para os sempre previsíveis estúdios Disney, acaba
revelando um tipo de saber importante para policiais e operadores da segurança
pública: a abordagem criminológica do crime e do criminoso.
Assim
como em Malévola, é importante saber que os criminosos também possuem uma
história que os levou a cometer os seus atos. Mais do que isso, que o crime e o criminoso são produzidos
historicamente e perseguidos de forma eletiva. Isso explica porque os “crimes
de colarinho branco”, que desviam milhões dos cofres públicos, não revoltam
tanto quanto o roubo de celular feito por um adolescente na rua. O vilão, a ser
amarrado em postes, é, geralmente, pobre e/ou negro. Esse conhecimento criminológico
pode auxiliar na execução de políticas mais adequadas visando à redução dos
índices de violência e a uma melhor atuação da polícia.
O
sucesso com o público infantil feito por Malévola nos permite pensar que as
crianças de hoje estão lidando com questões muito mais complexas que as do
nosso tempo, quando “vilão bom era vilão morto”. A esperança é que se tornem
adultos mais tolerantes.
A revolta com os crimes dos bandidos ricos levou milhões às ruas. O povo não aguenta mais e se pudesse amarraria mensageiros em postes descontentes com a omissão da justiça. O homem é responsável sim por seus atos e esta conotação vitimizada ao bandido é a grande responsável pelo quadro de insegurança atual. Um erro não justifica outro. Explica mas não justifica. Esta visão filosófica de parte da sociologia em relação ao criminoso é infantil.
ResponderExcluirCom certeza, tá viajando. Mas isso é ótimo. Vou ver o filme :)
ResponderExcluir"A sociedade tem os criminosos que merece; o meio social é o caldo de cultura da criminalidade; o micróbio é o criminoso que só tem importância quando encontra o caldo que o faz fermentar." Afrânio Peixoto (1876 – 1947)
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