Preto Zezé do outro lado da farda, contra os palhaços Titãs

Um palhaço fala em tom estridente: “Você também é explorado!”. Assim, a palavra de ordem bradada em manifestações populares é assimilada pela máquina capitalista e se transforma em refrão da péssima canção dos Titãs, “Fardado”.

Ao contrário dos velhos playboys, que fizeram sucesso nos anos 80 e que agora tentam se revender com a imagem de rebeldia, o Rapper cearense Preto Zezé, com sua canção “Do outro lado da farda”, não fica na miopia de ver apenas a farda ou o fardado. Morador da favela, ele sabe que pedir ao policial, “ponha-se no meu lugar”, como querem os Titãs, é mostrar-se apartado daquela realidade, na qual o jovem negro e/ou pobre tem como principais formas de ascensão social ser um soldado do tráfico ou soldado de polícia, dentro do contexto perverso da “guerra às drogas”.

Preto Zezé enxerga mais: Ao ver “do outro lado”, consegue atravessar a farda com múltiplas visões, experimentando um novo lugar. Sabe que o papel do fardado é “manter a ordem injusta”, “sem dor ou sentimento”. Mas sabe que para isso este mesmo policial sofre “exploração e humilhação do princípio ao fim”.

Enquanto os cinquentões tentam agradar em uma música com batida ruim e câmera frenética no clipe em que aparecem vestidos de palhaços – reconhecidamente a imagem que presos tatuam no corpo para mostrar que são matadores de policiais –, Preto Zezé consegue fazer poesia política complexa com um ritmo simples, qualidade de rappers e de emboladores, seus correlatos nordestinos. Essa voz da favela, ao contrário dos palhaços, sabe que “ninguém consola a família de um PM no velório” e que a missão policial toma feições suicidas em uma “democracia de fachada”. Nas ruas e para a gestão da (in)segurança pública, “policial tombado ou civil morto” é apenas estatística.

Preto Zezé (Foto: CUFA)

As ordens em forma de perguntas: “Por que você não limpa essa merda?!” e “Por que você não abaixa esse escudo?!”, feitas pela ex-famosa banda de pop-rock, mostram o total desconhecimento dos problemas sociais e de como a polícia – instituição indispensável em qualquer sociedade –, pode ser utilizada para manter uma “contradição cortante” em que o policial vive o dilema de ter que ser o “Capitão Nascimento” aplaudido pela classe média quando vai tratar dos filhos de sua favela, mas que também é xingado, inclusive em canções, por aquela mesma classe, ao tentar prender o “playboy metido a escroto”.

Preto Zezé mostra que a favela está viva e mais pensante do que nunca. Não faz um mero esculacho míope à polícia, como fazem os Titãs, como também não compõe uma ode à polícia. Sua canção é a elegia de nosso sistema, uma arma potente e uma crítica efetiva que muitos intelectuais e militantes ainda não conseguiram fazer.

Para ouvir “Fardados”, acesse: http://www.youtube.com/watch?v=vt62Nc1hr2Q&feature=kp


Para ouvir “Do outro lado da farda”, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=ZRhwpWToyik

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Um comentário to ''Preto Zezé do outro lado da farda, contra os palhaços Titãs"

Comentarios
  1. Interessante esta confrontação de ideias. Enquanto os Titãs continuam a exigir dos policiais mesmo sabendo de sua condição de explorados, o Preto Zezé teve a sensibilidade de perceber o lado humano daqueles que carregam nos ombros a impossível missão de estabelecer paz e justiça num mundo de valores invertidos e transvestidos.

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